Bioenergia é parte da solução para mudanças climáticas
Representantes do mundo inteiro – de governos, da sociedade civil e de empresas – estão reunidos em Dubai para discutir o futuro do planeta. A expectativa é que esta Conferência do Clima, a COP-28, seja tão importante quanto a realizada em 2015, que resultou no Acordo de Paris. O acerto assinado por 200 países prevê limitar o aumento da temperatura a 1,5º C.
Quando se sentarem à mesa, os líderes mundiais vão estar diante uma realidade diferente da última conferência do clima, realizada em 2022, no Egito. Em 2023, pela primeira vez, a variação da temperatura média global ficou acima de 2°C na comparação com os níveis registrados antes da Revolução Industrial (1850-1900). Em novembro, o Brasil registrou a maior temperatura da sua história, 44,8o C, em Araçuaí (MG). Dia a dia, vemos notícias sobre estragos e mortes provocados pela seca na região Norte, por enchentes no Sul e ondas de calor no Sudeste e no Centro-Oeste. Está em curso uma transformação de eras.
Este é o pano de fundo da agenda da COP-28. Em Dubai, vai ser conhecida a primeira contabilidade da descarbonização desde o Acordo de Paris e é esperado um intenso debate sobre o ritmo da transição energética. O processo de transformação para uma matriz de baixo carbono interessa a todos. Para nós, da indústria de bioenergia, é o que nos mobiliza.
Um dos maiores produtores do mundo de etanol, o Brasil é parte fundamental da solução. Pelas contas das Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, sigla em inglês), essa indústria pode representar um terço da oferta total de energia primária até 2050.
Pouco conhecida do grande público, a bioenergia tem o etanol como a sua face mais visível. Mas ele é apenas uma parte do que esse setor hoje produz. Cada empresa funciona como uma biorefinaria: além do biocombustível, produz fertilizante, proteína vegetal para alimentação animal e levedura, eliminando os resíduos e tornando a produção circular; e gera créditos de carbono para o setor de combustíveis líquidos, por meio do RenovaBio. Além disso, pode entregar energia elétrica (cogeração, biogás) e biometano, um substituto renovável do gás natural.
Em Mato Grosso, essa indústria tem percorrido um caminho que combina inovação, sustentabilidade, competitividade e desenvolvimento regional. Hoje, somos o maior produtor de etanol de milho e devemos finalizar a safra 23/24 como segundo maior de etanol (milho e cana de açúcar) do Brasil. Nossas indústrias estão entre as empresas com melhores notas de Eficiência Energético-Ambiental (NEAA) do mercado e com crescentes índices de produtividade.
Além de um importante instrumento para a descarbonização, essa cadeia produtiva é aliada da produção de alimentos. Exemplo é o etanol de milho que, desde 2017, teve um crescimento vertiginoso da produção, de 390 milhões de litros para 3,2 bilhões de litros (safra 2022/23). Após o início das atividades dessa cultura em Mato Grosso, área de pastagens caiu em torno de 6%, enquanto a produção de carne bovina cresceu 24%. Menor área, maior produção. Menor área, maior produção.
Também reduzimos a idade de abate do rebanho, de mais de 36 meses para menos de 24 meses. Desde o início do uso do DDG (Grãos Secos de Destilaria), um ‘derivado’ do milho utilizado na alimentação animal e que só é produzido por causa do etanol, houve aumento de produtividade no ganho de peso dos animais. Essa mudança foi possível graças à maior qualidade da suplementação alimentar.
Outra característica é a possibilidade de armazenamento dos grãos de milho, algo que não é possível com a cana-de-açúcar. Com isso, alcançamos estabilidade da produção de etanol. Essa vantagem possibilita a oferta do produto durante todo o ano, permitindo que o Brasil aumente a participação deste biocombustível na sua matriz. Um avanço que está previsto no projeto de lei que cria o programa Combustível do Futuro.
Não é só. Em Mato Grosso, estamos desenvolvendo projetos para implantação da tecnologia de BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono). Ou seja, estamos falando de uma indústria que, no médio prazo, vai permitir a produção do primeiro etanol carbono negativo do Brasil e vai suportar, em créditos de carbono, outros setores aonde a descarbonização for mais lenta ou difícil.
Pela primeira vez, o mundo está atravessando uma transição energética que tem o clima como principal motivador. Pela primeira vez, o Brasil tem a chance fazer da bioenergia um dos motores de transformação do seu desenvolvimento e de protagonismo no cenário mundial. Na COP-28, temos a rara oportunidade de mudar os rumos do planeta. O ano de 2023 nos deixa um recado claro: não há mais tempo a perder.
O texto foi publicamente originalmente no seguinte endereço:
https://www.poder360.com.br/opiniao/bioenergia-e-parte-da-solucao-para-mudancas-climaticas/