Para ser verde é preciso agir

 Na história do mundo, as grandes transformações são resultado de mudanças em diferentes níveis e amplitudes. Envolvem decisões de governo, aperfeiçoamentos legislativos, engajamento do setor privado e, principalmente, envolvimento da sociedade. É assim com o enfrentamento das mudanças climáticas. Poucas vezes na trajetória da humanidade um tema passou a mobilizar a atenção de tantas nações do planeta à medida em que os efeitos do clima se tornam palpáveis na vida das pessoas.

Nessa questão, que envolve transformações transversais no modo de produção global, o Brasil está melhor posicionado que muitos países desenvolvidos. Somos uma superpotência verde: segundo maior produtor mundial de etanol e com 79% de participação de fontes renováveis na sua matriz elétrica, contra menos de 20% nas nações mais ricas.

Boa parte dessa posição não é resultado apenas das riquezas naturais do país. Veio, principalmente, de iniciativas públicas e privadas para o correto aproveitamento das aptidões nacionais em direção a fontes limpas. É o que ocorre desde os anos 1970 e continua ainda hoje com a campanha #Vai de Etanol, lançada recentemente pela Única (União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia), além de ações de estados, como o de Minas Gerais, e de empresas e instituições públicas, como Correios e o STF (Supremo Tribunal Federal), de adotar o etanol como combustível preferencial no abastecimento de veículos flex. São políticas que transpõem do papel para as ruas a questão climática.

O etanol é reconhecidamente um dos protagonistas da transição energética no Brasil e no mundo. Sua cadeia produtiva é, notadamente, um dos exemplos mais bem acabados de economia circular.

Da cana-de-açúcar e do milho, que são matéria-prima para o biocombustível, também é possível produzir fertilizante, proteína vegetal para alimentação animal e levedura; e gerar créditos de carbono para o setor de combustíveis líquidos, por meio do programa RenovaBio. Além disso, essa indústria entrega energia elétrica (cogeração, biogás) e biometano, um substituto renovável do gás natural.

Mato Grosso é parte importante dessa mudança. É hoje o maior produtor de etanol de milho, deve finalizar a safra 23/24 como segundo maior de etanol (milho e cana) do Brasil e pode sediar, no médio prazo, a primeira indústria de etanol carbono negativo do mundo, por meio da tecnologia de BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono).

O protagonismo do etanol pode ser ainda maior. Está em tramitação no Congresso o projeto de lei que cria o programa Combustível do Futuro. A proposta prevê aumento para até 30% da mistura de etanol na gasolina, além de estabelecer marcos regulatórios para o Combustível Sustentável de Aviação (QAV, na sigla em inglês) e para o diesel verde.

Essa mudança precisa ganhar maior tração nas ruas, no consumo de combustíveis veiculares. Há algum tempo que a sociedade tem mudado seus hábitos de compra para atender necessidades urgentes do mundo, como o cuidado com o meio ambiente. E há algum tempo que mitos sobre o uso de etanol caíram por terra. O etanol é bom para o motor do carro, impede formação de depósitos de sujeira; tem um preço competitivo em relação à gasolina; além de reduzir as emissões de CO2 em até 90%. Reúne benefícios para você e para o planeta.

Entre 2003, ano do lançamento dos carros flex, e março de 2022, o uso de etanol evitou que mais de 630 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera. Para efeito semelhante na natureza seria necessário cultivar 4,5 bilhões de árvores pelos próximos 20 anos. É um benefício e tanto. Cada vez que você abastece com biocombustíveis, a qualidade do ar melhora. É como se estivesse ‘plantando’ árvores.

Hoje, o etanol é uma das rotas tecnológicas mais promissoras para a construção de uma nova era da mobilidade sustentável. E o consumidor tem papel fundamental nessa transformação global, que passa pela escolha do combustível para abastecer o seu carro. Construir um novo futuro, mais sustentável, é um processo coletivo, erguido passo a passo. Tanque a tanque.

O texto foi publicado originalmente no seguinte endereço:

https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2024/03/6811033-para-ser-verde-e-preciso-agir.html.

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